Meu problema com Saramago é que acho ele meio… burrinho. É, burrinho mesmo. Pode ser que ele tenha grandes livros, e eu esteja deixando de me maravilhar com sua sintaxe, pontuação (ou a falta dela), a estrutura de seu texto. Pode ser que, bem velhinho, eu abra um livro seu e perceba que morrerei sem ter me deliciado com obra tão magnífica. Mas é que talvez eu tenha dado um azar danado.
Porque eu ligava a tv ou via um vídeo no YouTube ou lia uma entrevista sua no jornal e lá estava Saramago dando pitacos estúpidos sobre política e religião, tanto numa quanto noutra área parecendo carecer de miolos (ou dos miolos certos). Ou eram platitudes sobre a vida, pseudofilosofias. Sempre constrangedoramente burro. No que ficava meio difícil acreditar que aquele mesmo homem fazia grande literatura.
Bem, não é que eu não tenha lido nada dele, na verdade li um livrinho, As Intermitências da Morte, que catei de minha irmã caçula em uma longa viagem na qual me vi acabando o que estava lendo e, já aflito, procurava outra coisa, qualquer coisa. Li assim, dentro de um ônibus turístico, foi bem rápido, indolor e inócuo. O que era uma boa ideia – a Morte deixa de trabalhar em determinada região, pessoas deixam de morrer ou, para isto, devem de lá sair – foi recebendo doses não recomendáveis de açúcares e moralismos. Bastou-me, por um tempo e até agora.
Além do mais, Saramago sempre parecia muito orgulhoso de si mesmo, e isto me parecia intolerável em quem dizia aquelas patacoadas. Se ele apenas escrevesse livros, e fosse um recluso, quem sabe. Mas ele era engajado, horrivelmente engajado, e dificilmente engajamento e inteligência andam juntos.
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Sobre Jorge Amado, negócio seguinte: ele aparecia demais. Como cresci nos anos 1970 e 1980, fui entupido de Jorge Amado. Eram Caetano e Gil com Jorge Amado, eram novelas e filmes com Jorge Amado, eram condecorações para Jorge Amado, era Jorge Amado nos discursos oficiais, Jorge Amado nas resenhas de jornal, Jorge Amado citado por outros escritores que nunca se cansavam de dizer que amavam Jorge Amado, artistas da Globo dizendo que jamais seriam o que são sem Jorge Amado, Zélia Gattai reafirmando o talento de Jorge Amado, governadores da Bahia e prefeitos de Salvador inaugurando praças, largos e becos com o nome de Jorge Amado, Jorge Amado vendido em ruelas para ser cafungado, fumado ou injetado. Ele estava em meu prato de almoço, no café feito pela manhã, na água que eu bebia antes de dormir. Com isto tudo, eu estava saciado (farto) de Jorge Amado. Para que ler seus livros?

Contudo, acho que hoje, num dia qualquer e para minha surpresa, pegarei um seu livro e farei o teste. Acho até que já li aquele pequenininho, que dizem ser o melhor dele ou algo assim, A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água. Mas vai lá, em um momento de distração posso me ver empunhando uma Tereza ou uma Gabriela. Agora, suco de Jorge Amado não tomo nunca mais. E cheirá-lo, nem pensar.
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Borges é um escritor imenso, um dos maiores, e quem não vê isso não deveria e quem não diz isso sem parar sequer deveria falar de livros. Isto porque Borges sequer precisa de uma história: a ele, basta um filamento de história, uma suposição, uma brecha, uma fresta na parede, um pedaço obscuro de uma cidade ou casa, e lá ele enfiará brilhantemente todo um mundo impensável para aqueles que não são Borges. Um escritor disse que Borges seria capaz de comprimir o Universo em uma caixa de fósforos, e eu digo mais – Borges o comprimiria e construiria fora da caixa outro Universo.
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Os Doze Trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato, deveria ser lido por todos os alunos já alfabetizados, desde bem cedo (e de preferência também pelos professores, sou ambiciosíssimo). Vibrante, tenso, divertido, por vezes assustador, não deve haver melhor isca para futuros leitores brasileiros. Uma criança que leia este livro e não queira mais, mais, mais! deve ser observada com zelo, correndo o risco de crescer e se tornar um assassino em série ou um deputado federal.

Mas parece que Monteiro Lobato é hoje portador de lepra avançada, e deve ser convenientemente afastado dos jovens. Uma pena, e logo em um país no qual o comum do povo (botem aí do gari ao gerente de fundos de investimento) costuma ter dores de cabeça no esforço de ler UM livro. Lanço aqui a campanha por mais bordoadas de Hércules.
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Dez autores que recomendo de olhos fechados, para ler de olhos bem abertos: Borges, Conrad, Turguêniev, Melville, Ibsen, João Ubaldo Ribeiro, Eça de Queiroz, Rudyard Kipling, Evelyn Waugh, Oscar Wilde e Dickens.
Se você prestou atenção, são onze.
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Parafraseando velha frase na contracapa de alguns álbuns de rock dos anos 60 aos 80, nos livros deveria vir isto aqui, em letras garrafais: “LEIA ESTE LIVRO BEM ALTO“.