André Barcinski lançou seu livro Barulho na meiuca de 1992, mas a revista Bizz já trouxera trechos em suas edições. O que era matéria vendida sem maiores pretensões acabou por levar o Jabuti em 93 (Livro-reportagem, ou algo assim, não vou nem quero checar).
Prêmios: danem-se todos eles.
Quero falar é do impacto pra minha geração, que ali estava entre os 20 e os 25 anos. Porque não tínhamos quase nada. A MTV engatinhava por aqui, acho que só Rio e São Paulo permitiam o acesso via UHF (que já era uma porcaria). É verdade que algumas rádios heroicamente traziam novidades, além da já citada Bizz e do Rio Fanzine, página dupla e dominical no Globo, capitaneada pelos parças Tom Leão e Calbuque. Mas quem poderia condensar em uma só publicação as mais valiosas informações a respeito do que acontecia naquele momento, e in loco? Barça fez isso, e brilhou.
Lembro de comprar o livro em uma modesta feira em minha cidade, assim que saiu. Corri pra casa, ansioso, folheando atabalhoadamente suas páginas. Fotos! Entrevistas em primeira mão! Cobertura de shows! Caixas postais para correspondência com selos e gravadoras! Uau!
Espalhei a Palavra entre os meus: “Vejam, está aqui, elas estão aqui, as bandas de que ouvimos falar mal e porcamente! Venham, regozijem-se!“
Babávamos, ríamos e chorávamos. Êxtase! Gozo! Leite e mel!

Era o que tínhamos, e nunca fomos tão felizes com a música. Quantas vezes saquei meu exemplar da estante e o reli? Havia sempre um prazer autêntico naquilo. Tudo era mais espontâneo e revelador, nostalgias à parte. Aquele livro abria aos nossos olhos possibilidades até então descartadas.
O Nirvana explodia, e nosso Barça capturava a explosão direto da fonte. A cena alternativa dos EUA nunca foi tão pujante, e o hômi estava lá, relatando do front, indo à casa dos sujeitos, cruzando o país, peitando na cara dura a grana escassa. Foi, viu e venceu.
Isto tudo está aqui também para que eu diga que o livro (que emprestei e perdi), vendido como ouro em sebos e afins, está sendo relançado em uma campanha para apoiadores numa edição de capa dura, com melhor tratamento das fotos e papel couché (e o acréscimo de dezenas de páginas). Inicialmente vendido por, sei lá, uns 40 contos, é agora papa muito mais fina. E, claro, eu entrei nessa. A campanha vai até o fim de abril, e os livros começam a chegar (autografados) no meio do ano.
Com todo o luxo de agora, ainda estão lá nosso suor, nosso sangue e nossas esperanças – cumpridas ou não.