Nossas leituras, nossa biblioteca

O ponto de partida de nossa união – Sizue e Caio – foi intelectual. Saber por meio de minha irmã que eu era um bom leitor despertou em Sizue curiosidade suficiente para desejar que nos reencontrássemos (muitos anos depois de, superficialmente, nos conhecermos). Dali em diante, o coração se encarregou de consumar a relação.

Morando juntos (o que logo aconteceu), nossas bibliotecas pariram uma só biblioteca. No apartamento em que estávamos, seu crescimento seria mais modesto em função do espaço, mas em seguida alugamos uma casa e pudemos expandi-la. Três anos atrás, a troca por um amplo apartamento permitiu que a ela dedicássemos generosa sala. Livros são nossa única e regular ambição material.

Nos últimos anos, Sizue tem comprado imensamente mais livros que eu, responsabilizando-se em primeiro grau pela ampliação de nosso acervo. De qualquer modo, costumamos dividir as impressões que guiam nossas escolhas. Temos alguns interesses que se assemelham, e muitos outros consideravelmente distintos. Isto faz com que áreas diversas e amplas recebam boa cobertura, e bibliografias díspares (pero complementares) conversem entre si. Modo geral, cabem a ela os romances contemporâneos, e a poesia a mim; respondemos os dois pelos clássicos estabelecidos. Fica com ela uma literatura, digamos, mais engajada em questões de gênero ou raça, ou que se relaciona mais abertamente com a Psicanálise; trato eu dos livros de História e Filosofia. Ela responde prioritariamente pelos livros de crítica e teoria literária, e eu cuido das biografias e dos livros dedicados à música e ao cinema. Assim funcionamos.

Sizue é notadamente mais organizada em suas leituras, metódica: elege o que lerá, separa os livros, coloca-os em uma ordem, anota em margens, usa marcadores; eventualmente, ficha o que lê. Eu, esculhambadérrimo, leio tudo meio solto, por vezes três ou quatro livros simultaneamente, e largo a metade para retomá-los um ano depois. Muito raramente faço anotações ou marcações. Se de vez em quando lemos o mesmo livro? Sim. E vez ou outra lemos em voz alta, um para o outro.

Há um projeto – o Clube de Literatura e Psicanálise, de encontro mensal e dirigido por Sizue – que exige que leiamos o mesmo livro, este votado (entre dois candidatos) pelos membros do referido clube. Com certa frequência, temos impressões opostas a respeito dessas e de outras leituras.

Em linhas gerais, é isto. Estamos, mais uma vez, reorganizando nossa biblioteca. Certamente não será a última. E espero, até o fim do ano, a ela acrescentar um livro especial (para nós dois): o meu.

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