Até 2015, precisamente primeiro de janeiro de 2015, eu não tinha conta alguma nas então razoavelmente novas redes sociais disponíveis, Facebook e Instagram (talvez o único em um círculo numeroso de amigos e colegas). Na véspera do ano novo, decidi que uma de minhas primeiras medidas seria abrir uma conta no FB, e assim o fiz.
E, como duramente aprendi, percebi com o tempo que qualquer maturidade cai por terra quando um brinquedo novo chega em casa. Verborrágico como era, ativo, propositivo e chegado a uma polêmica braba, em duas ou três semanas já colecionava problemas, até mesmo e principalmente e como não poderia deixar de ser com conhecidos de longa data. Começava ali meu martírio na internet, que fielmente estendi até 2019, 2020.
Saldo? Amizades de vinte anos que perigaram, outras que foram esfaceladas. Felizmente, com a ficha lentamente caindo e a percepção cristalina das pontes que queimei, consegui há poucos meses depositar todas as armas aos pés de pessoas queridas, e pedir perdão. Sem exigências de contrapartida, o que é mais difícil e, até então, impensável. A maior parte dessas pessoas, melhores do que eu mesmo sou, aceitou minha abordagem, e assim refizemos nossos laços de amizade e fraternidade. Outras não aceitaram o que lhes pedi, e permanecemos como estávamos. Mas mesmo estas não posso julgar, pois bem sei o quanto esgarcei certas relações, e que chagas abri em seus corações. Eu as entendo perfeitamente.
Hoje tenho apenas o Instagram, e lá busco tomar todos os cuidados que um ex-viciado em confusões internéticas deve tomar. Evito a rispidez, o comentário ácido, e por nada deste mundo sou capaz de entrar novamente em quaisquer bolas divididas – Deus me livre desse tipo particular de inferno. Acho até que podem me bater, e tudo bem (realmente).
Sei que não posso dar chance aos pequenos demônios de orelha, aqueles que ficam saltitando dos dois lados de minha cabeça, clamando por sangue (o meu e o alheio). Sei que desejam corpos espalhados pelo chão da retórica, que se alimentam do dissenso, mas por nada participarei novamente de debates online que não sejam puramente intelectuais – e olhe lá.
Não posso tomar o primeiro gole, e cada dia limpo é uma vitória a ser renovada no dia seguinte. Se tem cheiro de confusão, jeito de confusão e se remexe como confusão, tento não passar nem perto. E tudo isto é uma tremenda novidade pra mim, que desde os primeiros blogs (vinte e poucos anos atrás) fui criado na briga, no desafio, e ensinado a jamais recuar – se preciso, que eu afundasse atirando. Qualquer coisa fora disso era capitulação, covardia, pudor bobo. Eu tinha que aceitar a briga, e, uma vez empunhada a faca, esta só poderia voltar à bainha suja pelo sangue de meu oponente.
Olhem só quanta bobagem…
Agora já me controlo, já inspiro e expiro lentamente, e já sou capaz de ignorar provocações diretas e indiretas. Tem sido até bem fácil, confesso.
Estou limpo, mas jamais poderei cantar vitória. É daqui para a frente, dia a dia, todos os dias dizendo não, não quero, deixa pra lá, passo.
Briguem, e por favor me esqueçam. Como um bom pecador, rezarei por todos.
P. S: volto depois de pouco mais de uma semana de dengue, certamente a pior doença que já tive. Não, não quero que ela saia dessa posição em meu ranking.