“Somente 0,2% dos brasileiros fazem doações e quem doa mais são os menos favorecidos. Os mais ricos doam valores equivalentes a um terço do que doam os mais pobres, proporcionalmente à renda, de acordo com o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife).
No Brasil, o engajamento na filantropia ainda é incipiente em relação ao encontrado em outras nações. De acordo com o mais recente levantamento do World Giving Index (WGI), o país ocupa a 68ª posição no ranking global de filantropia. Nas primeiras posições estão Mianmar, Estados Unidos e Austrália.”
Fonte: https://agencianossa.com (a matéria é de 2022).
Taí. Peguei uma entre as muitas fontes possíveis, e mesmo que os dados variem aqui e ali e se possa discutir percentuais e precisões, não é possível fugir da constatação de que doamos pouco, muito pouco, e não somos lá grande coisa como filantropos. Em 2015, um texto meu tratava especificamente das doações e dos projetos filantrópicos no Brasil, contrastando nossa situação nesses campos (em especial) com a dos EUA (que costumam estar no topo do ranking). Deixemos de lado as meias-palavras: o Brasil é uma vergonha na área. E fica pior quando se constata que as classes socioeconômicas mais abastadas respondem pela maior fatia desse bolo de indiferença.
Mas, diabos!, para onde vai o dinheiro dos endinheirados, destes que aparecem em número cada vez maior estampando chamadas em sites bocós, espalhando aos ventos as conquistas de seu empreendedorismo? Sem querer demonizar aqueles que enriquecem porque levaram adiante alguma ideia ou esforço com sucesso, o que devolvem à sociedade? Devolução, sim senhor, como não? Vivem no éter, por acaso? Sou parte dessa alienação? Sem dúvida.

Acostumamo-nos, desde moleques, por filmes e noticiários, a observar milionários e bilionários norte-americanos retribuindo generosamente àquelas instituições que estão na fonte de seus êxitos, desde o sujeito que se encarrega da construção de uma biblioteca na universidade que o formou até aquele que, por meio de suas empresas, coloca de pé uma fundação beneficente ou doa gordas quantias a algum tipo de pesquisa médica. Há de se ter a sensibilidade de perceber que a vida é mais que ostentação bocó, jeca.
Estou responsabilizando e acusando as fatias mais privilegiadas da população brasileira?
Estou.
Estou generalizando?
Também.
Por aqui, vemos eventuais engajamentos de celebridades que enricaram servir em diferentes graus a algum tipo de projeto pessoal de marketing, uma espécie de upgrade obrigatório de consciência social na imagem pública. É só trabalho, no fundo. E isso muitas vezes começa no mais comezinho, já na negativa de uma esmola – quando a esmola é muito mais um ganho seu que um ganho de quem a pede, e não deve ser jamais um ato ostensivo, aberto e escancarado para que o vejam e aplaudam. Não damos, não queremos dar, não gostamos de dar, justificamos nossa recusa. E ainda a coroamos com a podre frase, lapidar em sua crueldade: “Pago meus impostos pro governo cuidar disso“.
No que deixo uma pergunta:
da tua alma, o governo também cuida?