Deus me livre de julgar alguém por não ler livros.
Como cristão, não conheço passagem em textos bíblicos, nem mesmo nos apócrifos, em que Cristo tenha dito: “Lerás livros”.
Muitíssimos milhões de boas pessoas certamente passaram pelo mundo, e nele estão agorinha mesmo, sem o hábito e o prazer da leitura – e provavelmente estão lá no Céu satisfeitíssimas, muitíssimo mais que qualquer um de nós por aqui.
E também sei que há certa sabedoria, não digo infusa, fora dos livros, com Riobaldos espalhados pelos cantões do mundo.
Enfim, ninguém precisa ler para ser feliz ou sábio – necessariamente.
Mas acho que ler, ser feliz e sábio é uma escolha perfeitamente agradável, eu diria agradabilíssima.
Claro que para muita gente a leitura é uma quimera, pois mal possui o que levar à boca. Ora se não sou sabedor disto, certamente sou. Contudo, defendo que um livro, mesmo nos piores casos, quase nunca algum mal faria.
Mas fora os casos de uma condição social aviltante ou de extremas dificuldades de sobrevivência diária, já começo a ver com estranheza pessoas que não abrem um mísero livro. Parece uma posição autoritária e arrogante, não é? E é mesmo.
Quando vejo as casas de jogadores de futebol milionários, por exemplo, meu primeiro pensamento é: “Caramba!, não há uma biblioteca, sequer um livrinho jogado num canto… Maldição!“
Nada (talvez um pouco, vai) contra os dez carros que estão no hangar no fundo da mansão, longe de mim julgar tal coisa. O jatinho à disposição também lá não me incomoda, eu não o desprezaria (acho).
Mas nem um livro? Nem sequer aqueles de escritórios chiques de advocacia, na tentativa kitsch de compor um ambiente sofisticado? Custa nada, chamem uma boa arquiteta, separem um dos vastos aposentos e coloquem ali na parede ao menos uma estante com algumas coleções, por óbvias que sejam.
De qualquer modo, nem é preciso ser um milionário perdulário. Certa classe social basta para o que digo. O SUV na garagem, a viagem parcelada para Dubai, as fotos no resort baiano, o check-in no restaurante badalado e… nem sequer um livrinho em casa?
Ou a grade de cerveja de todo final de semana, as coxinhas da asa na grelha, o tanque estilizado da motocicleta 125cc e… nem sequer um livrinho em casa?
Se pareço esnobe com essas coisas, ainda não me fiz entender, e não desejo deixar na dúvida quem me lê: é mesmo puro esnobismo intelectual.
Pessoas que podem gastar, que gastam, que exibem o que gastam, devem gastar também com leituras. Sim, é uma ordem. Fosse eu presidente do planeta Terra, esta seria uma resolução sem recursos possíveis. Todo aquele, sem justificadíssima razão ou fortíssimo motivo, que se negasse a ler um livro, sofreria alguma sanção em seus hobbies.
Não ler custaria, e custaria muito caro.