Falo como puro diletante, e não me pretendo mais que isto: a poesia condensa uma verdade sobre o mundo que outros modos de linguagem jamais alcançariam.
E, por ser condensação – e para ser condensação pouco importa sua extensão ou volume -, acumula força e energia únicas, impossíveis por outros modelos literários. De sua enorme massa surge uma síntese só exprimível por aquele meio, como se a mensagem que carrega dependesse desse absurdo acúmulo das coisas que devem ser ditas.
E, por trazer em sua estrutura tantos símbolos e sentidos tão densamente reunidos, exige do leitor, no mais das vezes, uma percepção fina, capaz de apreender sutilezas que a leitura desatenta deixaria escapar. Se percebemos todas essas sutilezas? Que importa? Importa continuar tentando.
Em outras palavras: a máxima verdade no mais alto grau da língua. A verdade, que pode estar até mesmo na face inversa da moeda poética.
Digo isto para deixar aos leitores do blog o poema abaixo, de William Butler Yeats (1865-1939), irlandês que não recuou diante das maravilhas da Criação. Carregada de misticismo e filosofia, vem aqui na tradução de Edson Manzan Corsi.
As duas árvores
Amada, olha em teu próprio coração,
A árvore sagrada lá está crescendo;
Da alegria os galhos sagrados partem
E carregam todas as flores trêmulas.
As mutáveis cores de seus frutos
Têm dotado as estrelas com luz alegre;
A segurança de sua raiz oculta
Plantou-se quieta na noite;
O movimento de sua copa cheia de folhas
Deu às ondas sua melodia
E casou meus lábios com a música,
Murmurando a ti uma canção de mago.
Lá, o amor percorre um círculo,
O círculo flamejante de nossos dias,
Girando, movendo-se, indo e vindo
Naqueles grandes e ignorantes caminhos de folhas;
Lembrando todo aquele cabelo agitado
E como as sandálias aladas se precipitam,
Teus olhos crescem cheios de ternura:
Amada, olha em teu próprio coração.
Não olhes mais no vidro amargo
Os demônios, com sutil astúcia,
O levantam à nossa frente quando passam,
Ou apenas olha rapidamente;
Pois, lá, cresce uma imagem fatal
Que a noite tempestuosa recebe,
Raízes meio recônditas na neve,
Ramos quebrados e folhas enegrecidas:
Todas as coisas se tornam esterilidade
No vidro sombrio que os demônios sustentam,
O vidro do enfado exterior,
Feito quando Deus dormia em tempos antigos.
Lá, através dos galhos quebrados, vão
Os corvos de pensamento incessante;
Voando, chorando, indo e vindo,
Garra cruel e garganta faminta,
Ou, ainda, eles se levantam e inalam o vento
E sacodem suas asas esfarrapadas; infelizmente!
Teus olhos ternos se tornam totalmente severos:
Não olhes mais no vidro amargo.