Glória feita de sangue

Na batida do post de ontem, dez clássicos do rock gravados ao vivo (duplos ou não).

Vai ficar muita coisa boa de fora? Vai, e paciência, e que nos maravilhemos com tamanho legado.

If You Want Blood You’ve Got It (AC/DC, 1978): registro definitivo da potência da banda com Bon Scott nos vocais, tem tudo aquilo que é sua marca: a insanidade física (Angus Young indo ao oxigênio na lateral do palco, por exemplo), perfeitamente perceptível nos sulcos do disco; a maximização do mínimo, com um som limpo de firulas, seco, duro, cortante; a reação ensandecida do público. Impiedoso em um palco, o grupo dá seu recado em 50 minutos de ataque sem descanso – e faz o Sex Pistols parecer o Restart.

Paris (Supertramp, 1980): presença fácil nas vitrolas da época, captura o pop progressivo do conjunto inglês em sua performance agridoce, por vezes profundamente pungente, sempre tocante. Uma coleção certeira de hits para cantar junto, bater palmas, assobiar (se você souber), chorar um cadinho. Classudo até os ossos, e imperdível.

Get Yer Ya-Ya’s Out! (The Rolling Stones, 1970): o disco que conta para a história o momento que definiria a banda por muitos anos, saindo da tosqueira das primeiras tours para o profissionalismo que Jagger imprimiria dali para a frente. Finalmente com um PA decente, estrutura de backstage, roadies profissionais e um Set list que exibia músculos poderosíssimos, os Stones puderam dar vazão à safadeza que os marcaria em definitivo. Cru e sacana, este disco ao vivo jamais seria superado em sua discografia. Discoteca básica da discoteca básica, obrigatório entre os obrigatórios.

Made in Japan (Deep Purple, 1972): consta que a banda tinha lá suas muitas reticências quanto a um disco ao vivo da própria lavra. Sua performance demolidora nos palcos receberia registro à altura? Martin Birch (depois Black Sabbath, depois Iron Maiden) garantiu que sim, e deste modo as noites em Osaka e Tóquio entraram para a história do rock. Poucas vezes uma banda impressionou tanto mandando ver diante de seu público. Depois daqui, jamais sairiam das prateleiras mais altas do rock.

Barão ao Vivo (Barão Vermelho, 1989): sai Cazuza, Frejat assume os vocais – e muitíssimos duvidam que a banda tenha fôlego para seguir em frente. Erraram. Com ótimos discos e uma pegada ainda mais roqueira, logo não deixam dúvida que sua carreira independia do ex-vocalista. Aqui, demolem tudo, botam a casa abaixo e despejam nas cabeças presentes tudo aquilo que deve marcar uma banda de rock decente: sujeira, volume e sacanagem. E Frejat assume – pra não largar por muito tempo – o posto de melhor vocalista do rock brazuca.

No Sleep ‘til Hammersmith (Motörhead, 1981): quando o ouvi pela primeira vez, ainda adolescente, fui jogado pra trás como se recebesse a patada de um grande urso. Pesadíssimo, rascante e brutal, não envelheceu nada. Tudo aquilo que faria a fama do grupo está aqui, condensado em 40 minutos de selvageria implacável.

Slade Alive! (Slade, 1972): não foi gravado em um pub, mas o espírito é o mesmo. Música para bebuns britânicos berrarem enquanto batem o fundo de suas canecas de cerveja no balcão, e alto como se suas orelhas estivessem ao lado da turbina de um avião. Compre, baixe, peça emprestado – mas faça este favor a si mesmo.

Live After Death (Iron Maiden, 1985): depois de três irrepreensíveis discos com Bruce Dickinson, era hora de colocar este novo poder em um disco ao vivo. E este duplo aqui o faz com méritos de sobra, em 1h40m de petardos antológicos. Tudo soa bem, pesado e impecável. Pra muitos, o melhor ao vivo da história do heavy metal (ponto de vista pra lá de defensável). E a versão para os 13 minutos de The Rime of the Ancient Mariner vale pela discografia inteira de muitas bandas.

At Fillmore East (The Allman Brothers Band, 1971): sobre um palco, poucas bandas se atreviam a encará-los. Seu blues-jazz-rock-southern ganha aqui novos corpos e dimensões, e o grupo exibe com os requintes de um mestre sua exuberância técnica. Um disco para sempre, e para sempre insuperável.

The Who (Live at Leeds, 1970): o lugar era pequeno, talvez 2.500 pessoas estivessem presentes no refeitório da Universidade de Leeds, contrastando com a multidão que a banda há pouco havia encarado em Woodstock. Abençoadas 2.500 almas, que viram o Who espancar com fúria e doçura seus instrumentos. O álbum ao vivo definitivo da banda. Procurem a versão expandida, com Tommy executado (o verbo aqui cai perfeitamente) na íntegra.

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