Na batida de nosso carnaval, o que andamos assistindo e nossas impressões a respeito.
A Baleia: o que Darren Aronofsky quis arrumar aqui, não sei. Badaladíssimo há anos, paparicado pela crítica, sabe-se lá o que lhe subiu à cabeça. Ao sair do cinema, não pude dizer se havia gostado ou não. Hoje, posso dizer que não, não gostei (mas, aqui em casa, fui voto vencido). O argumento é bom: professor com obesidade mórbida (Brendan Fraser) ministra aulas online de escrita criativa, enquanto lida com o suicídio do amante que o levou a abandonar mulher e filha. Quando esta reaparece, já adolescente, há todo um enredo voltado para sua reaproximação, cercada pelo aparecimento de um jovem religioso que deseja convertê-lo e a presença de sua única amiga. Pode-se tirar qualquer coisa disto, mas roteiro e direção escolheram o melodrama rasgado (acentuado pela irritante trilha sonora), o sadismo centrado no peso e na compulsão alimentar do protagonista e as soluções de problemas blá blá blá: não consigo me reconectar com minha filha (mas o relacionamento complicado há de apresentar uma virada), a religião me afastou de quem eu amava (e é preciso lidar com isto com intensidade máxima, derramada, plena de culpa), a amizade que tenho está centrada na compaixão perpétua que sentem por mim (e tome cenas de uma relação terna, bonitinha, comovente em sua persistência), meus alunos precisam escrever com entrega e autenticidade, pois assim conseguem produzir textos melhores, verdadeiros (e os exemplos dados das redações maravilhosas – quando honestas – são péssimos)…
Para encerrar, o papel principal é típico das encomendas pro Oscar: personagem sofridíssimo, simpático para além de qualquer barreira em sua dor, compreensivo mesmo quando lhe esfregam cocô no rosto; e a atuação é arrebatadora, vejam só como ele some no papel, está irreconhecível… Um dramalhão por gosto, opção e cálculo (e usar Moby Dick como fundo disto é ofensivo).
P. S: parece que o texto original, para o teatro, foi integralmente respeitado nesta versão para o cinema. É possível que, encenado, saia-se melhor. Na telona, não funcionou.

Casamento em Família: achei A Baleia ruim, forçado e esquemático, mas ao menos é um filme. Aqui, nem cinema temos. A história de dois casais cujos filhos namoram, e que em um jantar descobrem-se adúlteros entre si, poderia render uma boa comédia de erros – mas aqui tudo é constrangedoramente ruim. O quarteto que conduz a trama traz excelentes atores – Richard Gere, Susan Sarandon, William H. Macy e Diane Keaton – perdidamente patéticos, patinando em um roteiro que deve ter sido escrito em um coffee break qualquer (consta que saiu de um livro, que espero jamais sequer folhear). Há uma série de gags espantosas em sua ineficácia, de fazer humorísticos globais dos últimos vinte anos parecerem Molière. Que quatro profissionais tarimbados aceitem tais papéis e colaborem com este horror, aí está um mistério bem mais interessante que qualquer dos diálogos que este troço apresenta. Fujam, evitem, esconjurem.

Borgen: enfim, uma boa indicação neste post. Série dinamarquesa exibida no Netflix, e produzida entre 2010 e 2013. O título remete à sede do parlamento dinamarquês, o Palácio de Christiansborg. Com 30 episódios de 1h em suas três temporadas, jamais permite que o espectador abrace o tédio. Está centrado em três núcleos: o Executivo, com a Primeira-Ministra Birgitte Nyborg (a excelente Sidse Babett Knudsen) e equipe, sua família e a principal emissora de TV do país. Traz capítulo a capítulo assunto e problema que se desenvolvem e ali mesmo alcançam resolução, com ganchos que se sucedem consistente e coerentemente. O elenco é ótimo; as histórias, verossímeis; os dramas, corretos; e cenários e figurinos são merecedores de aplausos. Nada parece estar fora do lugar, e a Dinamarca fica mais e mais interessante à medida que o seriado avança. Alternativa recomendadíssima, em alta rotação aqui em casa.