Nenhum animal deve ser usado para nosso entretenimento. Nem como penduricalho para exibição. Ou para serviços que nos sirvam de passatempo. Também não devem ser modificados geneticamente, nem usados em experimentos cruéis ou desgastantes. Nunca enjaulados ou engaiolados sem extremíssima e comprovada necessidade. Abandonados, jamais. Bem como não devem ser adotados irresponsavelmente. Em hipótese nenhuma, tratados com desprezo e crueldade para que nos alimentemos.
Animais possuem alma, sentem dor, sentem-se sozinhos e carentes. Sentem frio, fome, sede, calor. O Criador não os colocou junto a nós para nosso luxo ou diversão. Podem nos ajudar, mas sempre sendo respeitados e tratados corretamente.
Poucas vezes, creio que pouquíssimas, fui cruel ou desumano com animais. Talvez o tenha sido, tento lembrar, na inconsequência estúpida da infância e da adolescência. Mas certamente dei de ombros tantas vezes, quando deveria ter assumido outra atitude. Mudei lentamente, e creio que o passo decisivo foi dado quando recebi uma lição de Castiel, o gato que mora conosco. Ao ser covardemente agredido alguns anos atrás, ele nos mostrou – mostrou a mim, especialmente, eu que até adotá-lo pouca atenção dedicava aos gatos – do que também são feitos esses bichinhos.
A estupidez do homem acaba por submetê-los a tratos abusivos, muitas das vezes a troco de nossa satisfação mais estúpida. Carruagens, charretes – diabos, por que os cavalos devem servir a isto, quanto mais nos dias que correm? Vê-se aí o espetáculo do absurdo, em que nos despimos de decência para fazer uso da tração animal. Prefeitos pelo mundo, com um pouco de vergonha na cara e almas menos sujas, deviam proibir essa patifaria de imediato. E que as prefeituras tratassem de subsidiar, por algum tempo, aqueles que trabalham com animais, até que se ajeitem em outra atividade. De resto, fim, chega, parem. Deixem os cavalos em paz.

Também vemos cães e gatos em abundância pelas ruas, e que recebem a única ajuda verdadeira e amorosa de abnegados, gente que dedica tempo, dinheiro e atenção para dar aos bichinhos o trato correto, carinhoso, adequado. Quantos e quais são os projetos do poder público para abrigá-los e tratá-los? Há políticas voltadas para isto? Caramba!, se mal as temos para os moradores de rua… A desumanidade, com homens e animais, é generosa para com ambos.
Há que se combater o absurdo destes maus-tratos, observados mesmo na antropomorfização a que certos bichinhos são submetidos (vejam madames e demais alienados, moldando-os de acordo com seus caprichos odiosos, impondo-lhes condições as mais desconfortáveis, dolorosas tantas vezes).
Deve-se imaginar que não estão aqui para nosso deleite, pura e simplesmente, e que não devem ser maltratados (insisto neste ponto) sequer para nos aplacar a fome. Que possuem necessidades próprias, alegrias próprias, prazeres próprios, e que estes podem se ajustar sem sofrimento àquilo que é bom para as gentes. A noção de submissão que nos acompanha a todo custo – animal bom é animal submisso, dane-se que seja pela intimidação ou porrete – é aviltante. Ao negarmos aos animais um tratamento digno, tornamo-nos indignos, menores, criaturas boçalizadas.
E, quando os amamos, tornamo-nos mais filhos de Deus.
P. S1: nas fotos, os companheiros aqui de casa: Violeta, nossa pescoçuda canina; e Castiel, nosso pequeno tigre.
P. S2: recomendação de leitura: Libertação animal (Peter Singer).