Under the Midnight Sun (The Cult): veteraníssimos sim, empoeirados jamais. Assim, o Cult jogou no mundo um sério candidato a melhor álbum de sua discografia, naquele ponto da carreira em que tantas bandas perdem o gás e, ainda na ativa, lançam qualquer coisa que justifique a próxima tour. Aqui, o grupo se apresenta reflexivo como jamais antes, prezando silêncios, pausas, climas, caminhando em uma estrada de elegância contida, discreta. Não é preciso dizer muito, basta dizer o que importa. Esqueçam as guitarras e os vocais altíssimos: nesta praia é noite, não se ouve muito, e é preciso estar atento.

The Sick, The Dying… and the Dead! (Megadeth): Mustaine deixou um câncer para trás, juntou seu bando e cometeu um disco veloz e impiedoso, remetendo demais às coisas que fez em seus primeiros anos com a banda. No entanto, velocidade não precisa ser burrice cega – as canções se cruzam e dialogam entre si, num conjunto denso e afinado, coeso e esperto. As duas guitarras continuam a puxar o bonde com força e brutalidade, e a cozinha que se vire (no que se vira muitíssimo bem). Eles continuam a atirar, e não se engane: não desperdiçam munição.

The Car (Arctic Monkeys): o disco que confirma: o grupo que surgiu na melhor linha do britpop agora é outro, e o que entregaram no disco anterior não foi acidente nem experimentação. O piano dá as cartas, e Alex Turner assume sua persona crooner com gosto e competência. Com belos arranjos de cordas, guitarra e baixo sutis, a emoção é entregue em colheradas de leite, mel e uísque. Para ouvir sentado(a) no chão da sala, entre sorrisos, soluços e nostalgias, ou promessas de dias (ainda?) melhores. Um disco de adultos, para adultos.

Necropolítica (Ratos de Porão): foda-se, foda-se e foda-se. 2022, 2005, 1991 ou 1980, as boçalidades estão por aí e vieram para ficar, e já que é necessário meter a boca no trombone, o candidato natural e número um são os macacos velhos do Ratos. Acostumados a esculachar governos, modas e afetações há quarenta anos, passam o rodo no bolsonarismo e em qualquer coisa que se mexa, no melhor estilo “levantou a cabeça, lá vai pedra”. As letras estão ótimas – por aqui as palavras machucam, docinho. No que fazem, continuam sem rivais – no mundo.

Impera (Ghost): antes de ouvir este disco, vale o toque: esqueça qualquer referência aos anos de 2020, e prepare-se para embarcar nos ´70 e ´80, valendo tudo aquilo que carregam de bacana e escroto. A banda está à vontade, emulando a sonoridade, o estilo e a perversão sacana daquelas décadas. O rock é de arena, é camp, é rasgado, debochado e muito, muito divertido. Se você quer festa classuda e pra cima, este é o disco.
Uma resposta para “Discos de 2022 para amar, destruir alguns móveis ou refletir sobre sua maravilhosa/miserável vida”
Republicou isso em REBLOGADOR.
CurtirCurtido por 1 pessoa