Castiel & Violeta

Cachorros sempre estiveram nas casas de minha família. De Apolo, que tiramos da rua de minha infância em Curitiba, até as duas pastoras belgas que viveram e morreram conosco, eles estavam lá, e que bom que estavam lá. Esta é a parte fofa e bonitinha de minha relação com eles.

A face não tão fofinha, é: quando Sizue, em 2016, trouxe a ideia de um gatinho, resisti o quanto foi possível. Não uma resistência estridente, mas persistente, constante. Gatos nunca estiveram em meu horizonte de convivência, e habitualmente eu os associava (olha a ignorância do senso comum aí) a certa soberba desleal. Ela venceu, como de hábito, e Castiel (um batismo de Catarina, a mais velha de nossas duas aqui de casa) chegou.

De fins de 2016 a meados de 2018, eu e ele tivemos boa convivência, e até mesmo venci quaisquer desconfianças. O afeto veio. Mas era um afeto cordial, não desbragado, um tanto quanto contido. Um amor comedido, eu diria.

Até que, pouco mais de quatro anos atrás, ele foi brutalmente agredido, quando de suas saídas ainda frequentes à rua – morávamos em uma casa que, mesmo gradeada e aramada e telada e blindada, não era páreo para um gato teimoso; ele saía à noite para retornar de madrugada, pela janela de nosso quarto de casal. Acostumamo-nos e nos confortávamos com seu retorno sempre seguro. A agressão se deu enquanto viajávamos, eu e Sizue. Em casa, as meninas e uma amiga nossa não o viam, mas pela comida que sumia diariamente julgavam que o danadinho estava por ali. Não estava, outro gato tratava da ração e da água, e por um estalo antecipamos nossa viagem. Não deu outra, e na primeira madrugada de nossa volta ele enfim reapareceu – quase à morte, o bichinho aguentou firme até que chegássemos, para só então dar com os bigodes. Correrias, socorros, internação, três cirurgias e trinta dias de molho depois, ele estava bem e recuperado. Chorei bastante neste período, choramos todos, e a partir de então eu e meu camaradinha nos tornamos parceiros e compadres de todos os dias.

Violeta veio depois, a danadinha. Também resisti – já não tínhamos o Castiel, e eu já não levara duas das cachorras de minha outra casa para o sacrifício, velhinhas e doentes? -, e novamente fui vencido. Outra doce derrota, digo. Ela chegou filhotinha, assim como seu irmão felino, e com todo o gás possível a uma cachorrinha. Se Castiel tratava de derrubar objetos (e eventualmente quebrá-los) em suas incursões para o alto, Violeta mastigava qualquer coisa que seus dentes em crescimento permitiam. Estavam ganhando, ambos, corpo conosco, com as alegrias e dores próprias disto. Os dois se deram bem, qualquer estranhamento foi deixado de lado rapidamente, mudamos todos para um apartamento (felizmente amplo o bastante) e, pouco mais de seis anos depois desde o início desta história, permanecemos juntos e felizes.

É curioso como se dá o milenar processo de trânsito entre estes dois mundos: aquele em que nos julgamos suficientemente satisfeitos com o que temos, e não desejamos assumir o risco de modificá-lo; e o outro, em que não mais imaginamos uma vida sem a modificação ocorrida.

Em nossa casa, não imaginamos nem desejamos um cotidiano sem qualquer um dos dois. Queremos o pacote todo, até mesmo o trabalho que por vezes nos dão. Porque, claro, a alegria é imensamente maior. Em nossa família, agora somos seis.

P. S: todas as noites, antes de dormir, Castiel me chama no quarto (mia até que eu vá a ele, e corre para me esperar) para que na sala fiquemos vinte, trinta minutos juntos. Violeta fielmente nos acompanha. Deitado no chão, dou e recebo carinho. Ou ficamos os quatro – Sizue, eu e os dois – espalhados em nossa cama, até que cada um busque seu lugar de sono. É bão demais. E recomendo.

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