Gostamos de “Avatar: o caminho da água” – e as razões disto

Já perceberam que quando um arrasa-quarteirões (ou a promessa disto) é lançado as discussões midiáticas ou mesmo as pretenso-especializadas giram um bocado em volta de suas bilheterias? “Flopou”? “Bombou”? Cumpriu as expectativas do estúdio e dos investidores? Tem muita pistolinha de aluguel e gente sem bagagem cinematográfica maltratando as teclas do computador. Parafraseando Truman Capote, a respeito do execrável “On the road”: “Eles não escrevem, batem nas teclas”.

Assim, como a venda de ingressos pouco ocupa minhas preocupações quanto a um filme, não me interessei em saber se Avatar fez o que devia fazer na relação despesas-receitas. E logo digo: fui ao cinema somente por programa familiar, como quem sai para passear num calçadão. Vamos lá, pode ser divertido, é bom sairmos juntos. Era esta a minha disposição, então.

De início, a extensão já me preocupava: três horas e dez minutos? O que há lá para ocupar três horas de minha vida? Não caberia o que desejam contar, sei lá, em noventa, cento e vinte minutos? Deus!, como são pretensiosos!

Tem início a história. Vem a passagem do tempo, a apresentação de protagonistas e coadjuvantes, a demonstração estrondosa na linha “veja como gastamos o dinheiro todo”. De má vontade, antecipei horas de tédio.

Que não vieram, vejam só.

Não vou me ater muito ao roteiro. Perseguição ao líder rebelde (o avatar que protagonizou o primeiro filme), “reencarnação” do maior dos vilões, certa pegada ecológico/espiritual, enormes planos abertos que mais uma vez lembram demais o trabalho de Roger Dean, ilustrador de alguns discos clássicos do rock (muito do que vi me lembrou icônicas capas do Yes nos anos 70), as reviravoltas “agora estou quieto-sou perseguido-chegou a hora do revide-triunfo final”, a perda obrigatória de um personagem querido, a promessa de uma sequência. Tudo isto está lá, parece e é esquemático e… funciona, e está tudo bem para filmões desse naipe.

A questão, penso, é o que obras do tipo podem entregar, qual o seu público, com que limites dramatúrgicos trabalha. Vejamos: é um filme “para toda a família”? É, sem dúvida. É longo, arrastado em demasia? Não achei, e imagino que não muitos cortes poderiam ser feitos para a edição final – não senti que faltasse ritmo ao que vi. O elenco faz o que deve fazer? Uau!, sim, considerando ainda toda a computação gráfica envolvida, e que não tratamos das exigências de um Rei Lear.

E mais: diante da paranoia que observamos, com setores questionando “ideologias perversas camufladas aqui e ali”, Avatar: o caminho da água é um belo e doce tapa na cara dessa turma. A família, com todos os membros formando um só órgão pulsante, é tema, foco, argumento e razão para que o filme exista. Tudo gira a favor e contra o principal núcleo familiar do enredo, e nele estão quase todo o tempo as câmeras. Pais, filhos e agregados agarrados entre si, debatendo-se e lutando contra toda e qualquer coisa que possa vir a provocar baixas em sua unidade. Lembram dos velhos e queridos filmes hollywoodianos que, ao fim e ao cabo, pregavam o “agarre-se aos seus”? Pois Avatar II segue exatamente tal linha. Agarre-se aos seus, zele pelos que você ama, cuidem-se mutuamente e, se preciso, ataquem. Achei bonito, sabe?

No fundo – para mim -, neste momento de “polarização” (palavrinha desgastada, que samba mais que dentadura em boca de banguela), está aí mais uma vez o pertinente recado: esteja com aqueles que você ama, dê atenção àquilo que deve importar, concentre suas energias neste amor. É isto. Gostamos.

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