Se o Metallica merece um post, ele o faz apenas por ter tamanho e irrelevância. Desde 1996, com “Load” (sexto álbum da banda), nada de memorável foi feito por eles. Arrisco neste post uma investigação de boteco a respeito.
Primeiro: com o multiplatinado “Black Album”, de 1991, ficou imediatamente claro que eles nunca mais seriam o grupo dos anos 80, sério ao extremo, dedicado à causa, avesso ao maneirismo midiático. Vinte e cinco milhões de discos e uma tour estafante pelo mundo colocaram a turma no patamar incômodo de “maior banda de metal de seu tempo”, o que automaticamente gera zilhares de catapultas com pedras pesadíssimas mirando seu telhado de vidro. E convenhamos: para onde vai o tesão pelo peso e velocidade thrash? Como descer a mão, mesmo que houvesse tal vontade, com tanta responsabilidade comercial envolvida?.
Esperta e acertadamente, com um hiato imenso (para o mercado) de cinco anos, lançam o sucessor de seu disco mais exitoso com uma guinada muitíssimo satisfatória para o heavy rock, com piscadelas explícitas para o hard. Se “Load” parecia afastar o grupo definitivamente de suas raízes, ele o fazia com estilo e competência. Seguiram-se um acréscimo medíocre com “Reload”, um bom disco de covers (“Garage Inc.”) e uma duvidosa e arrogante parceria com a sinfônica de São Francisco; daí, só colocariam a cabeça de fora para lançar algum material de estúdio em 2003, com o odioso “St. Anger”, um troço torturante para qualquer ouvido decente. Faixas intermináveis, vocais modorrentos e uma bateria de lata que deixaria Carlinhos Brown roxo de inveja.
Desde então – vinte anos, por Deus! –, lá está o grupo maior do que nunca no mercado de espetáculos, entupindo grandes arenas e estádios. A troca de baixistas traz outra marca da parceria Hetfield-Lars: tratar de não ter ninguém na banda que possa eclipsar a dupla. Trujillo é excepcional baixista, mas não há nada que possa fazê-lo parecer minimamente encaixado no Metallica, e certamente nenhum tempo do mundo pode arrancá-lo do patamar de músico contratado. O patrão paga a banda, o patrão escolhe a música.

E os caras nos ameaçam ainda com disco para abril deste ano. A faixa que soltaram não é ruim, até mesmo flerta com o que faziam há quarenta anos, mas há de se desconfiar que sejam capazes de botar na praça um bom álbum. Que eu esteja enganado, mas aposto uma mão de ótimas cartas que agora, beirando os sessenta anos de idade, a gana de se provar capaz de jogar na ponta dos cascos é quase nenhuma, com a testosterona no nível da canela. Se cometerem um disquinho bacana, veloz e thrasheiro, o que fariam com ele nos palcos? Quantas canções “pé direito no fundo” eles são capazes de tocar em uma noite? Lars, em especial, passa a impressão de que duas ou três músicas seguidas com maior pique podem levá-lo a uma UTI.
É dinheiro demais, um respeitável status quo no enorme circo dos ingressos, muito tempo com a barriga encostada no balcão, o cotovelo apoiado, os dedos tamborilando ociosos. Tirar essa carreta da garagem, trabalhar seu motor e partir para a estrada sambando nas curvas não me parece ser desejo de nenhum deles. Na verdade, qualquer banda de rock pesado (sua) contemporânea consegue colocá-los, hoje, no chinelo, até compondo meio desleixadamente.
Uma vergonha, e não podem achar outros culpados. Eles estão dentro de sua própria casa, meus chapas.
Agora encerro o texto, e com uma taça de vinho dou o play em meu Spotify.
O disco? “Kill ´Em All”.