O argumento das duas temporadas de White Lotus é enxutérrimo: turistas chegam em resort de rede de luxo para uma semana de ócio e, quem sabe tantas vezes será assim e é assim que gostamos, um cadinho de dissipação. À primeira vista pouco promissor, mesmo com o gancho de uma ou mais mortes (não sabemos de quem, digo logo) abrindo o primeiro episódio.
E acho que é bacana e bom esclarecer de imediato que investigar os óbitos não é o objetivo-fim dos roteiristas, na medida em que não se trata de um seriado de tons detetivescos. Mas, sim, o percurso dos personagens até que fulano ou beltrano bata as botas é, de fato, o interesse das histórias.

A primeira temporada (seis episódios por volta de 1h), no Havaí, é bastante boa, e ganha o espectador em definitivo no terceiro episódio, quando os três ou quatro núcleos que recebem o zoom das câmeras já estão suficientemente recortados. São em sua maioria famílias ou casais, dividindo o protagonismo com o viajante solitário, e todos trazem consigo um punhado de perfídia – com níveis variados de charme e classe. Jovens afiados no discurso identitário e anticapitalista que, claro, jamais renunciarão a seus confortos; pais não lá muito atentos; casal em lua de mel que mal se conhece; senhora avançando na idade que, zilionária, possui a maturidade emocional de uma menina de doze anos; e funcionários do hotel entre o profissionalismo, o tédio e o asco pelos hóspedes. Todos remando juntos para um desfecho com tempero dos filmes dos irmãos Coen. Bom o bastante para desejarmos uma sequência.

Agora, a segunda temporada (sete episódios, também por volta de 1h)… é sensivelmente melhor, aperfeiçoando climas, diálogos, edição, fotografia etc. Bem, a paisagem siciliana ajuda consideravelmente, é vero. Enquanto o Havaí parece complementar a cafonice geral, aqui a geografia e o urbanismo italianos servem de contraponto àquilo que os visitantes apresentam de vulgar.
O esquema proposto permanece: turistas norte-americanos (maioria entre os protagonistas) perdulariamente vivendo sete dias de lazer vazio, vadio e, não enganemos ninguém, por vezes desejável. Dois dos personagens da história havaiana reaparecem aqui, misturando-se a novos casais e uma família de avô, pai e filho. Os “locais” dividem-se entre trabalhadores do resort e “moças acompanhantes” ávidas por dinheiro de fora.
Em suma: tudo funciona bem, sem cansaço, em excelente ritmo, verossímil e sedutor. A HBO confirma uma terceira temporada, e indicações apontam para a manutenção do rodízio de resorts e a permanência de um ou mais personagens anteriores. E percebo agora que ainda não disse que os elencos são ótimos, e então está dito. Enfim, recomendo com entusiasmo, força e vontade. Vá lá e reserve seu quarto (e deixe uma conta no bar aberta, em meu nome).