Pinóquio

O italiano Carlo Collodi botou seu Pinóquio no mundo em 1883, e daí em diante a imaginação popular nunca mais deixou de associar a ele um boneco de madeira, que no livro ganha vida e deseja se tornar um garoto de verdade. Feito da madeira do pinhão – daí o “Pinocchio” do dialeto típico da Toscana – pelo carpinteiro Geppetto, seu pai e criador, o molequinho possui a estranha e incômoda característica de um nariz que se põe a crescer quando conta mentiras. E é assim que, no romance, o bom velhinho justifica a escolha do nome:

Que nome lhe darei? – disse para si mesmo – Quero chamar-lhe Pinóquio. O nome dar-lhe-á sorte. Conheci uma família inteira de Pinóquios. Pinóquio o pai, Pinóquia a mãe e Pinóquios os meninos e todos estavam bem. O mais rico deles pedia esmola.”

Espirituoso ele, não?

Por evidente, muita gente tem na cabeça a animação da Disney, de 1940. Já sabemos como funciona: o mastodôntico estúdio bota as mãos a trabalhar em uma adaptação e, BUM!, é como se dali em diante a conversa estivesse encerrada e nada mais pudesse ser feito.

Bem, como desenho animado, talvez. No que Guillermo Del Toro, espertamente, deixa a animação de lado em 95% do filme a abraça a velha e querida técnica do stop-motion. E, como de costume em produções do tipo hoje em dia, chama atores renomados para dublar as principais vozes. Quem está aqui?  Ewan McGregor, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Cate Blanchett e Ron Perlman, que fazem seu trabalho bem direitinho.

O longa é… muito bom, digo eu. Lacração, a praga de algumas produções dessa área, não há ou não as vi. A transposição para a Itália fascista dos anos 20 e 30, é tão aceitável quanto qualquer uma de muitas outras possibilidades. Melodrama, não percebi – a emoção não me parece ser mais que aquela que texto e história pedem. E o roteiro não gasta seu tempo com historietas que tornariam o filme enfadonho ou excessivo.

E sim, sim, sim: o epílogo é beeeeeeeeeeeeeem bonito. Um pouco melancólico, decerto, mas o que se pode fazer quando as mortes que cercam um modo especial de vida (a de Pinóquio, que não envelhece ou adoece, e que não muitas casualidades podem eliminar) acabam por acontecer? Eu veria, e recomendaria àqueles de que gosto. Depois de certa mancada com “A Forma da Água”, Guilherminho acertou a mão.

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