Anteontem à tarde cancelamos a participação em reuniões com CEO`s de multinacionais, simpósios da ONU e chats online com membros da equipe de transição presidencial – eventos desimportantes e aborrecidos – para nos dedicarmos à arrumação da biblioteca aqui de casa. Das 13 às 21h30, com intervalo para um prosaico lanche de pão caseiro, livros foram dispostos em prateleiras, piso da sala, mesas e cadeiras, em uma espécie de catarse bibliófila que resultou em pouco mais de centena de exemplares preparados para doação e trocas em sebo.
Explico: quando nos mudamos para este novo endereço, exatamente no início da pandemia, sabíamos que enfim estaria à disposição de nossa sanha livresca o espaço necessário para a guarda de uma coleção que, se sequer arranha uma voracidade Umberto Econiana, já é robusta o suficiente para engolir cantos insuspeitos do apartamento. Tacamos prateleiras de madeira pouco nobre – mas robusta – nas paredes da sala e iniciamos a disposição do que possuíamos.
Ocorre que, nestes quase três anos, certa sanha comprista, consumista e escalofobista (Odorico Paraguaçu – todos os direitos reservados) implicou num crescimento chinês e indiano do número de livros. Mesmo leis draconianas buscando impedir a procriação se mostraram pouco eficazes. Assim, tentamos organizar as populações por nacionalidades (majoritariamente) ou assuntos. Isto feito, pouco mais de oito horas depois, quando nos demos por exultantes com o resultado de nossa compulsão, encerramos a lida com pizzas, coca e, talvez quem sabe, analgésicos. Acho que não fizemos feio, e estamos prontos para receber novos filhotes.
Assim fomos, assim somos, assim a banda toca por estas plagas.