Aqui em casa esta série bateu firme e fundo no coração. Oito episódios de meia hora cada, com a exceção do último, que dá uma esticada de 50 minutos. Por que “O Urso”? Bem, taí uma coisa que só é integralmente respondida no encerramento da primeira (?) temporada.
Um toque: “comédia dramática”, como se vê por aí, é só preguiça intelectual crítica. Por que diabos qualquer tom cômico salpicado aqui e ali torna um seriado uma “comédia dramática”? Meu amigo, o ser humano pode ser engraçado até num campo de concentração. O lance aqui é drama tenso, no qual o sorriso ou a gargalhada são quase sempre sinal de alívio.
O enredo traz um chefe de cozinha jovem e premiado, Carmy, que de restaurante badalado no Michelin cai na chapa quente de uma lanchonete familiar – uma herança que não se sabe se benvinda. Ideia e vontade do irmão mais velho, que estourou a cabeça e legou ao caçula a zona de guerra. Carmy não vai ao enterro, sofre de uma baita ansiedade e ainda deve encarar a desorganização de um point tradicional em Chicago, então caindo aos pedaços e atolado nas dívidas com fornecedores e Receita Federal. Qualificado demais para comandar a cozinha do lugar? Nem se trata disto, mas de convencer uma equipe acostumada ao caos a se organizar para um serviço minimamente decente.
Falamos em tensão?
A câmera ziguezagueia pelo ambiente puxando o espectador para perto do fogo; a cacofonia de vozes é onipresente; a trilha sonora (excepcional, só canções bacanas) reforça a bagunça, e você acaba sorrindo junto para não submergir com os personagens. Destaque (destaque, destaque!) para o sétimo episódio, alguma coisa como um remake de “Apocalypse Now” na cozinha de uma birosca. Assista já, agora. Se você não tem o Star+, faça um gato no vizinho, pague no cartão e depois cancele, rache com seu melhor amigo ou com seu amor – mas não deixe passar. “O Urso” é a série mais áspera, emputecida e contagiante desde sempre. Bote a mão nessa panela quente e grite. Ou melhor: urre.