Diário da Flip 2022: dia 4

Feito o café da manhã, atravessamos a ponte e rumamos para a Flip que se desenrola em barracas de vendas de livros e espaços para conversas com o público. Estivemos no bate-papo com Janine Durand, dA Escrevedeira, e Nanni Rios, livreira e curadora da Livraria Baleia, de Porto Alegre, dois projetos muitíssimo bacanas dedicados a cursos, oficinas, lançamentos e palestras relacionados à literatura. Pudemos, mais uma vez, ouvir relatos de experiências a respeito de iniciativas que incentivam e disseminam a leitura Brasil afora, e perceber o quanto as mulheres ganharam e ganham espaço no meio literário.

Depois do almoço, já de volta ao Centro Histórico, às 15h ocorreu aquele que era, provavelmente, o evento mais esperado desta edição da Flip: a conversa com Annie Ernaux, francesa ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2022. Annie, diante de um auditório e de uma praça lotados, pôde discorrer sobre sua vida, seu casamento e suas relações amorosas, sua rotina, a surpresa ao se saber vencedora do prêmio (“Eu estava na cozinha de minha casa, cuidando de meus gatos, e ouvi a notícia no rádio, bastante incrédula”). Annie mostrou-se simpática, aberta e muito bem-disposta, tanto que, depois da conversa, permaneceu por mais de duas horas autografando seus livros diante de uma fila imensa, e sempre recebendo a todos com um sorriso aberto, sincero. Um show de vida e disposição.

Com um breve intervalo, e também na Casa Matriz, a conversa com Nastassja Martin, autora do sensacional e instigante livro “Escute as Feras”, em que narra seu encontro quase fatal com um urso na Sibéria, em 2015. Encontro este que deixou cicatrizes não só físicas, e um aprendizado: “Você está na frente do urso e pensa ‘merda, vou morrer’, e depois não morri. Eu estava sozinha, e na montanha não costuma ter urso. Daí a ideia, dos meus amigos de lá, de que o encontro tinha de acontecer”. Enfim, uma discussão franca sobre quase morrer, e o que fica e se carrega depois disso tudo.

Já no começo da noite o último encontro do dia, na Casa Matriz, com a escritora Saidiya Hartman e mediação da também autora Djamila Ribeiro. Ambas puderam debater o papel dos negros na construção das sociedades norte-americana e brasileira, sobretudo a importância da atuação das mulheres negras, que já no século XIX tiveram participação decisiva no molde social dos dois países, fugindo de convenções e ampliando suas fronteiras de atuação.

Depois de mais essa pequena maratona, voltamos ao maravilhoso restaurante Thai Brazil, em que um belo Curry – em um salão agitado – iniciou nossa despedida do festival e da cidade.

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