Sexta amanhecemos sob chuvisco, o mesmo que deu as caras na cidade por várias vezes. Mas foi bom, servindo para amenizar o abafamento persistente de um mormaço pré-verão. Aliás, cabe um pequeno capítulo sobre as características pedra-sabão das ruas do Centro Histórico: estão corretamente preservadas, mantendo o sítio patrimonial de acordo com suas características básicas. No entanto, andar sobre estas pedras exige preparo, adequação e bastante atenção. É todo um pisar diferente, muito distante do caminhar a que nos acostumamos em outros pisos planos. Não é difícil escorregar ou tropeçar se estivermos descuidados, então o visitante deve permanecer com um olho à sua frente e outro ao chão. Ao final de cada dia, sentíamos a diferença nas panturrilhas e na coluna. Mas seguimos adiante, tudo é parte da festa.

Feito o almoço, permanecemos no Centro para o bate-papo com Chico Felitti na Casa Folha. Foi delicioso, com o autor muito à vontade com qualquer pergunta e com o público que se apinhava até na rua. Ele fez um relato detalhado, gostoso – e às vezes sofrido –, de suas reportagens investigativas, do sucesso de seus podcasts, da relação com investigados e entrevistados e da escrita de seus livros. Finalizando, uma conversinha rápida com ele (e um autógrafo, claro).

Na casa da Estante Virtual, pudemos ouvir as experiências de Mell Ferraz, com a narrativa de seu envolvimento apaixonado e precoce com os livros e como encara seu papel e sua exposição como influencer literária. Para fechar o dia de conversas, Benjamin Labatut na praça principal. O autor chileno discorreu sem pressa sobre sua visão a respeito da vida e da literatura: como cria, que influências traz consigo, o papel da solidão em sua formação como pessoa e escritor, como vê seus livros, o que pensa das convulsões atuais em seu país, seu espanto diante do nascimento do primeiro filho. E não deixou de lançar à plateia uma pensata provocante: a de que devemos ler mais vezes menos livros, sendo leitores menos ávidos por aumentar nossas bibliotecas: “Mais importante que ler muito é ler muito alguns livros, reler mais que ler”.

Por fim, encerramos mais um dia de muito bate-perna com duas pizzas deliciosas, com direito a uma bela massa artesanal.